O comportamento é uma característica primordial dos seres vivos. Quase o identificamos como a vida propriamente dita. Qualquer coisa que se mova é tida como viva – especialmente quando o movimento tem direção ou age para alterar o ambiente (Skinner, 1974). O nosso grande desafio sempre foi buscar as explicações das causas que determinam os comportamentos ou por que os organismos se comportam.
Ao longo da aventura humana, muitas tentativas foram feitas para explicar as origens dos comportamentos: (1) causas populares, todas elas baseadas na tradição cultural anticientífica, como: astrologia - a posição dos planetas determina nosso comportamento; numerologia – significação dos números influencia no comportamento: (2) causas internas, buscam as causas no processo que se realiza no interior das coisas, ou seja, um agente interno determina o comportamento, como: causas neurais – estruturas determinam comportamentos; causas internas psíquicas – busca explicar o comportamento em termos de um agente interno sem dimensão física, chamado de mente ou psíquico. A psicologia tradicional introspectiva é baseada nestes pressupostos. Os conceitos da psicanálise de Freud do ego, superego e id, são usados desta maneira, bem como as várias teorias deles originadas.
Diferente das explicações populares e da psicologia tradicional introspectiva, a análise experimental do comportamento busca a explicação da origem do comportamento nas variáveis externas ao organismo que se encontram no ambiente. O hábito de buscar dentro do organismo uma explicação do comportamento tende a obscurecer as variáveis que estão ao alcance de uma análise científica. Estas variáveis estão fora do organismo, em seu ambiente imediato em sua história ambiental. Se vamos usar os métodos da ciência no campo dos assuntos humanos, devemos pressupor que o comportamento é ordenado e determinado (Skinner, 1974). Podemos predizer, controlar e interpretar um comportamento manipulando e alterando as variáveis das quais o comportamento é função.
Análise funcional
As variáveis externas (as independentes) das quais o comportamento é função possibilitam fazermos uma análise causal ou funcional. O entendimento da relação entre a causa do comportamento (variáveis independentes que estão no ambiente) e efeito no organismo determinando como ele se comportará (variáveis dependentes) nos possibilita analisar o comportamento. Teremos um encadeamento causal composto por três elos. Por exemplo: (1) uma condição externa (ambiente), ou seja, uma operação efetuada de fora do organismo – alguém priva um indivíduo de beber água por dois dias; (2) uma condição interna – longa privação provocou sede excessiva: e (3) um certo comportamento – necessidade urgente de beber água. Podemos analisar e prever a probabilidade de resposta deste indivíduo beber água. Colocamos uma jarra de água na sua frente, e como sabemos da sua história recente de privação de água, podemos prever que ele beberá toda jarra. Portado, o comportamento de beber água em excesso é função da sede provocada pela história recente de privação.
Utilização da análise funcional
A terapia comportamental está interessada em analisar como os eventos ambientais (os estímulos) determinam as ações do organismo (as respostas). A relação de dependência entre estes eventos, ou seja, a resposta e as conseqüências reforçadoras é chamada de contingência de reforçamento. A identificação destas relações entre eventos ambientais e as ações do organismo é chamada de análise funcional. É um importante instrumento de trabalho para o terapeuta comportamental. Utilizamos a análise funcional para quê? Para identificar qual a funcionalidade do comportamento (queixa) do cliente. Por exemplo, na queixa de ejaculação rápida descartada alguma etiologia orgânica temos que, através de hipóteses, identificar por que ele ejacula rápido.
Numa análise funcional evidenciamos o Antecedente (especificar as ocasiões onde a resposta ocorreu) x Comportamento (a própria resposta) x Conseqüência reforçadora: tipo de reforço positivo – fortalece o comportamento que produz; reforço negativo de fuga - elimina a estimulação aversiva; ou reforço negativo de esquiva – previne a estimulação aversiva.
Sinopse de caso – análise funcional de ejaculação rápida
José (nome fictício), 32 anos, heterossexual, noivo, queixa-se de ejaculação rápida primária. Ejacula, em média, nos dois primeiros minutos da relação sexual.
ANTECEDENTE |
COMPORTAMENTO |
CONSEQÜÊNCIA |
Pai “tirava sarro” quando ele era criança falando que tinha “o pinto pequeno”; |
Na masturbação solitária não ejacula rápido. Na masturbação e na relação com a parceira (ambiente sexual) ejacula rápido; |
Reforço negativo de fuga/esquiva (ejacula rápido porque sente muita vergonha do seu pênis e acha que não vai satisfazer nenhuma mulher). |
Referência bibliográfica: Skinner, B. F. (1974). Ciência e comportamento humano. São Paulo: Edart.
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